Essa é uma pergunta frequente no meu consultório e com certeza de outros alergistas também.
E pra essa pergunta só existe uma resposta correta: DEPENDE.
Quando falamos em exames laboratoriais para investigação de alergias, estamos falando de um exame, popularmente conhecido como RAST ou teste de alergia, que na verdade é a dosagem do IgE específico para alguma substância.
Este tal IgE que quase sempre aparece quando se fala de alergia, é um tipo de anticorpo que é produzido pelo nosso corpo, quando ele interpreta alguma substância como um possível agressor ao nosso organismo para que num próximo contato ele possa nos “proteger”.
O problema é que no caso das alergias, o nosso sistema imunológico se equivocou e entendeu como agressor uma substância que na verdade é inofensiva. E quando o corpo usa esse IgE, em vez de nos proteger, ele causa as reações alérgicas.
Então vocês podem pensar: “Ok! Até aqui eu entendi, mas então se eu fiz um teste e mostrou que tenho o IgE específico para alguma substância positivo, eu então sou alérgico àquilo oras bolas.”

Continuo dizendo: DEPENDE!
Vou tentar explicar de uma forma simples e lúdica…
Imagine um reino que existe em uma floresta. Lá existe um setor que é responsável pela defesa desse reino, que se chama “Exército de proteção”. Nessa Rede de proteção, existem vários tipos de cargos e patentes com funções diversas, mas que pro nosso caso, só interessam dois tipos: Os “Generais REG e os “Soldados E”, que só agem mediante ordem desses generais.
Quando alguma coisa (vamos usar aqui o exemplo de um coelho) da floresta entra no reino, o “Exército de proteção” fica em alerta máximo para saber se esse coelho é um aliado ou um inimigo. Acontece que dependendo de alguns fatores, algum “General REG” pode interpretar o coelho como um inimigo (mesmo que não seja) e treinar um grupo de “Soldados E” para atacá-lo, caso ele volte a entrar no reino. Só que depois de analisar melhor, aquele “General REG” percebe que o coelho é inofensivo e não é um inimigo. Assim, não há motivo para atacá-lo e, portanto, por mais que tenha um batalhão de “Soldados E”, especificamente treinados para atacar coelhos, de prontidão para agir, o “General REG” simplesmente não dá a ordem de atacar e assim os coelhos podem entrar e sair do reino de forma segura, sem que sejam atacados pelos “Soldados E” específicos para atacar coelhos.
Acontece que se um auditor fizer o levantamento dos batalhões do reino, irá constar um batalhão desses “Soldados E” específicos para atacar coelhos. E mesmo que os coelhos entrem e saiam do reino constantemente, sem serem atacados, o auditor pode achar que aquele reino é inimigo dos coelhos, apenas por conta da existência do tal batalhão.
Essa estória serve para mostrar que ter o IgE positivo pra alguma coisa só significa que, em algum momento da sua vida, seu organismo interpretou aquela coisa como um possível agressor e produziu anticorpos do tipo IgE contra aquela coisa.
Mas para que esse anticorpo IgE reaja conta a tal coisa, é necessário que ele receba uma ordem de uma célula reguladora, ou seja, apenas ter o IgE positivo, não garante que você seja alérgico.
Então é isso que acontece, ter o IgE específico positivo para alguma substância, não quer dizer que sejamos alérgicos, isso só é verdade, se quando em contato com essa substância, nós apresentamos reações.
Por isso sou enfático em dizer DEPENDE, pois muito mais que no exame, é fundamental se basear numa história completa para decidirmos se há alergia, se não há ou se são necessários mais teste, como o teste de provocação oral (colocar o link para o teste no site) para confirmar ou afastar a alergia.
Com tudo isso que falei acima, a mensagem que quero que vocês guardem é que: EXAMES DE ALERGIA NÃO FAZEM O DIAGNÓSTICO DE ALERGIA! Eles precisam ser interpretados num contexto por um profissional capacitado e por isso não adianta sair fazendo exames pra saber a que é alérgico, o exame só tem sentido, para ajudar a confirmar ou afastar alguma suspeita clínica.